Trégua de Natal
A Primeira Guerra Mundial foi um conflito que impactou o mundo, além do grande número de mortos em combate, também por sua larga proporção e quantidade de soldados mobilizados. Estiveram envolvidas no confronto as Potências Unidas (Grã-Bretanha, França, Sérvia e Rússia Imperial) e as Potências Centrais (Alemanha e Império Austro-Húngaro), e posteriormente também os países que se uniram às duas potências.
A guerra teve início em julho de 1914 e acreditava-se que a vitória da Alemanha seria rápida e certeira. Porém, em setembro, com o insucesso da ofensiva alemã, ainda era possível ver as trincheiras cavadas do Mar do Norte até as fronteiras da Suíça. Todas protegidas por arames farpados e artilharia pesada.
Com a chegada do rigoroso inverno, as tropas foram obrigadas a se posicionarem de forma defensiva para aguardar a primavera. O frio, a neve, a garoa e a neblina dificultavam a visibilidade, a camuflagem e o transporte, além de congelar armamentos, combustíveis e suprimentos. Dessa forma, estabeleceu-se a Guerra de Trincheiras caracterizada por conflitos com pouca mobilidade, sem avanços territoriais e muito poder de fogo entre os países. Apesar disso, como os exércitos inimigos ficavam muito próximos, com cerca de 100 metros de distância, o contato entre eles não era raro. Bilhetes com notícias, mensagens e resultados de jogos esportivos eram compartilhados entre as trincheiras.
Foi diante desse cenário, nas trincheiras próximas à cidade de Ypres na Bélgica, que aconteceu a chamada Trégua de Natal. Contam as cartas de soldados britânicos às suas famílias que, durante a véspera de Natal de 1914, alguns soldados irromperam das trincheiras cantando hinos natalinos. As tropas inimigas responderam com suas músicas de Natal, e assim começou a trégua. Soldados alemães, britânicos, franceses e belgas trocaram presentes como comida, cigarros e chapéus. Comeram e beberam juntos e também improvisaram árvores de Natal. Houve até mesmo a menção de um soldado britânico tendo seu cabelo cortado por um barbeiro alemão. Esse comportamento foi chamado pela imprensa britânica da época de “Viva e Deixe Viver”. Além disso, foi nesse momento de cessar-fogo que os soldados puderam finalmente realizar funerais para os mortos. A Trégua de Natal não foi um armistício oficial, mas sim uma iniciativa dos combatentes dos baixos escalões, que posteriormente foram punidos.
Onde há a massa, há o futebol! O esporte mais popular do mundo, que prova o seu potencial agregador e amistoso, também apareceu diante desse contexto controverso. Há relatos que, em algum desses campos, um grupo de soldados improvisou uma “pelada”. Algumas narrativas falam em uma lata de carne sendo chutada de um lado para o outro, mas há quem diga ter sido utilizada uma bola de verdade já que centenas de bolas foram enviadas ao front para desenvolver o trabalho de equipe e promover o lazer entre os soldados.
Apesar de haver diversas versões, algumas até exageradas do que foi a Trégua de Natal, o que se sabe é que entre abraços e presentes a bola também mostrou a crueldade da guerra, que só foi acabar em 1918. E para imortalizar a história, foram criados alguns monumentos. Na Inglaterra, existem dois monumentos: a estátua do artista Andy Edwards situada em Liverpool, que mostra dois soldados inimigos apertando as mãos diante de uma bola e a outra escultura, essa em Alrewas, desenhada por Spencer Turner, que mostra uma bola metálica vazada contendo duas mãos se cumprimentando. Já na Bélgica, próximo ao local da trégua, há uma cruz fincada no chão que, até hoje, são deixadas flores e bolas de futebol.
Você conhecia essa história? Em que outros momentos improváveis será que o futebol esteve presente?
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